sexta-feira, 31 de julho de 2015

SEI QUE QUERES


Nada do que sei
É o que quero
Quero o que não sei
O que não terei
O que não serei
O que não tive
É o que quis
Nada do que sei
Terei

quinta-feira, 30 de julho de 2015

SAUDADES


Por Edson Vidigal​


Antes fosse uma rosa
em um imenso jardim
antes fosse um beijo
em asas de querubim
antes fosse desejo
sorriso suave que vejo
lábios vermelhos que almejo
que em suave ensejo
vive e olha pra mim

Antes fosse o que fosse
tão doce
meigo rostinho
que me deixa assim
antes fosse fogo
mas é água que queima
água que ferve
que congela tudo em volta
e em vapor
nos separa de tudo
de tudo

o sangue
a carne
feridas que abrem
sangue que ferve
por você
gotas
cada gota
escreve o que sente
e se perde
ao amanhecer

O amanhecer de ternura
amanhecer de pura
saudade
saudades muitas
saudades
saudades do olhar
de tua alma
de teu corpo
saudades de sonhos
de brinquedos
castelos
e finais felizes

domingo, 26 de julho de 2015

SEI QUE QUERES

por Edson Vidigal


Nada do que sei
É o que quero
Quero o que não sei
O que não terei
O que não serei
O que não tive
É o que quis
Nada do que sei
Terei

sábado, 25 de julho de 2015

O DIABO DAS PERGUNTAS


Por Edson Vidigal​  


A vida é engraçada. São tantas as perguntas que fazemos... Poucos sabem suas respostas.  
Ele era um desses raros afortunados que sabiam. Ele sabia todas as respostas, até mesmo as que não tinham perguntas.

Ele era um menino estranho, um tanto tímido, um tanto alegre. Sua cabeça era do tamanho do mundo, e seus pés do tamanho de uma tigela de leite, dessas que os gatos adoram. Suas mãos pareciam pãezinhos gorduchos de formas variadas e seus olhos esbugalhados eram doces como o orvalho de uma manhã de verão. Realmente, ele era estranho. 
Eu o conheci uma vez, de noite, pouco antes de me deitar. Meus pés estavam frios e meus olhos relutavam em dormir pela vontade de continuar lendo um livro. O sono ia me vencendo aos poucos quando o percebi atrás de uma árvore, lá em baixo na rua. Não sabia se era de um cachorro ou de uma pessoa a sombra que rapidamente fugiu de meu alcance e simplesmente sumiu, deixando apenas aquela velha árvore de sempre na esquina. Mas tenho certeza que essa foi a primeira vez que o vi.

Algo despertou minha atenção e me fez sentir estranho como há muito não me sentia. Era como se formigasse pelo meu corpo uma sensação esquisita. Talvez eu estivesse com medo, ou talvez curioso. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas sabia que era ele quem havia estado ali, me observando enquanto eu não percebia. Por que não pude percebê-lo antes? Há quanto tempo ele estava lá? Tenho certeza que ele sabia essas e outras respostas que eu procurava. O curioso é que ele uma vez me confessou que, apesar de saber todas as respostas, ele não sabia nenhuma pergunta. Quando perguntei a ele o porquê disso, ele me respondeu com convicção: “_Porque eu sei todas as respostas, ora!” Na época, eu tinha oito anos, e como já acontecia desde que nasci, as perguntas apareciam na minha cabeça. Como? Não sei. Uma nascia do chão, uma brotava de uma árvore, outra caía de pára-quedas, uma vinha de avião... Elas simplesmente iam aparecendo de todas as partes.  

No começo, elas apareciam e eram logo perguntadas. Com o passar do tempo e a crescente falta de paciência dos meus pais em respondê-las, as perguntas foram se acumulando, e logo já faziam filas à espera de serem perguntadas. Um dia o excesso de perguntas à espera ficou muito grande pra caber na fila, e causou uma enorme confusão na minha pequena cabecinha. Foi quando elas começaram a fermentar de velhas e fazer bolhinhas flutuantes. Logo procurei organizar a bagunça e determinei que fosse implementado o sistema de senhas. Cada pergunta que chegava pegava uma senha numérica e aguardava ser chamada em sua vez. Elas se revoltaram com a situação de ficar esperando tanto tempo por serem perguntadas e novamente voltaram a fermentar e fazer bolhinhas flutuantes, dessa vez maiores e mal cheirosas.

Foi quando eu tive que instalar cadeiras e uma televisão para que as perguntas pudessem se distrair confortáveis enquanto não eram perguntadas. Acho que foi a pior idéia que já tive. Primeiro, elas iam se enchendo de idéias bestas à medida que iam assistindo à televisão, e isso só as deixava mais complicadas e perdidas. Algumas já não sabiam mais direito nem mesmo o porquê de se perguntarem. Outras se tornaram tão incoerentes que quase me deixavam gago quando as perguntava. Outras mesmo ficavam absurdas e tão sem importância que deixavam meus pais muito chateados, e eles simplesmente se negavam a responder outra pergunta por um bom tempo. Teve uma que pirou tanto com a televisão que, quando foi perguntada, me fez babar e engasgar, de tão desconcertado que eu fiquei. Eu não sabia se ria, se chorava ou se enfiava a minha cara no banco do carro depois da besteira que eu perguntei. Parecia que eu estava perguntando só por perguntar.  

Cheguei à conclusão que a televisão na sala de espera das perguntas as “idiotizava”. As transformava em monstros sem pé nem cabeça. Deixava-as completamente burras. E isso só me deixava desacreditado com meus pais, o que fazia com que eles dessem menos atenção às minhas perguntas. Por isso, a quantidade delas na sala de espera ia chegando a um número inacreditável. Nessa altura, eu já não agüentava mais tanta fermentação das perguntas que envelheciam à espera de serem perguntadas. As bolhinhas flutuantes se transformaram em bolhões gosmentos e verdes com cheiro de estragado que iam grudando por toda parte de minha pobre cabecinha. A quantidade de meleca que saía de meu nariz era tanta, que dava pra fazer uma bola do tamanho da lua (se eu fosse guardando toda a meleca embaixo da cama). Depois eu descobri que essa meleca toda era, na verdade, as perguntas mais velhas que simplesmente esperaram tanto para serem perguntadas, sem conseguir, que acabavam morrendo sem respostas e, por fim, viravam meleca. A situação estava péssima mesmo.  

Lembro que uma vez, já desesperado, resolvi impor às perguntas um sistema de atendimento com hora marcada. A princípio, pareceu uma boa idéia. Todas ficaram felizes por não terem mais que ficar fermentando esperando a morte na sala de espera. Eu disse a elas que fossem embora e voltassem mais tarde quando houvesse vaga. Acontece que elas iam embora e simplesmente não voltavam mais. Desistiam de tentar serem perguntadas. E eu acabava esquecendo delas e não ligava dizendo que tinha vaga. Elas iam sumindo, até o dia que simplesmente eu parei de perguntar. 
Quando eu achava que meu problema havia acabado, e eu poderia descansar sem me preocupar com fermentações, bolhas, bolhinhas e bolhões, mortes e melecas por toda parte, é que o problema ficou sério de vez. As perguntas não apareciam mais. Porém, em seu lugar, apareceram milhões e milhões de dúvidas, que estouravam como pipoca por todos os lados e tinham filhotinhos a cada vez que uma se encontrava com outra. 
Minha cabeça se transformou de vez em um caos de fermentação e meleca duvidosa. Era horrível. Eu já dava por certo para mim um fim tenebroso, fermentado e mau-cheiroso. E isso era a única coisa da qual eu não tinha dúvidas. Foi quando comecei a soltar “puns” e arrotos nas horas mais inoportunas. Toda aquela fermentação na minha cabeça, perguntas mortas saindo pelo nariz e dúvidas e mais dúvidas fazendo pressão em minha cabeça, que parecia que ia explodir. A minha vida era realmente assustadora e fermentada.

Foi quando eu conheci aquele menino esquisito e cabeçudo. E graças a ele eu sobrevivi pra contar a estória. 

sábado, 18 de julho de 2015

SENHOR, FAZEI-ME INSTRUMENTO DE VOSSA PAZ


Senhor, leva essa sede
esse copo
esse medo
esse acerto
leva essa fome
esse prato
esse dedo
leva esse sonho
essa cama
essa dama
esse peito
leva esse colo
esse dolo
esse solo
esse chão
que insistimos em pisar
que insistimos em morrer

HOJE INACABADO



Tudo o que foge toca fundo o que podíamos
nos deixa a presença
um vazio
as portas
os instantes
os sonhos
as palavras
a imensidão
o nada

sexta-feira, 10 de julho de 2015

MUSA

Por Edson Vidigal

Entre titãs e deuses, 
verdades e curvas palavras
você apareceu

Entre a negra noite
e a rósea aurora
você cantou

Entre duas lutas
o divino e o profano
você dormiu

E teimosa à fuga dos imortais
em nossos corações de negro ferro
encharcados de sangue
você se escondeu

enquanto a chuva não vem
enquanto as vestes não dançam soltas
enquanto as pedras não são atiradas
enquanto não estiver seguro uma vez mais
(por breve tempo que seja)
o fogo de Zeus

TODO POETA É UMA PORTA, TODA PORTA É UM POETA


Morde
Morte
Forte
Corte
Corta
Morta
Porta
Poeta

Carta
Corta
Certa
Certo
Perto
Porto
Porta
Poeta

Forte
Norte
Morte
Morta
Torta
Porta
Poeta

sexta-feira, 3 de julho de 2015