Naquela
porta, naquela sala, naquele berço, dormia o sol, na lua cheia. Enquanto anjos
circundavam o jardim em busca de flores que cansaram de murchar. Que cansaram
de sorrir, que cansaram de andar.
O suor
descia de seu rosto pálido e encontrava o frio em seu peito vazio. Naquela
sensação de não pertencer a nada, a ninguém, a lugar nenhum. Aquela sensação de
ausência de repouso, de descanso, de um final feliz.
E notas
graves emolduravam uma linda melodia que dançava na noite por entre os goles de
momentos felizes que lhe desciam pela garganta de tantos em tantos compassos.
Naquela
cadência infinita, naquele ritmo forte, naquele pulsar profundo, batia um
coração fraco, sem muito ar, sem muito mar, sem água, sem molho. Um redemoinho
de escarpas sem fim de onde não se viam fundos, apenas o negro de olhos
brilhantes nos quais se podia eternamente despencar.
E
molduras não podiam conter o canto que extravasava a tela em somatórios de
pontos que, unidos, beijavam curvas, subidas e descidas calmas e tenras onde
pássaros cantaram e aves pousaram em meio ao vôo.
Foi
quando um grito mudo ecoou no éter, atravessando o futuro em ondas de calor, de
pulsões, de explosões que alcançavam planetas distantes. Escapou da luz por
cansaço de segui-la em vão, pois onde quer que ousasse pensar, lá ela já
estava, carregada por suas aladas e velozes carruagens de fogo.
Da dor,
da cor, do amor, finalmente nasceu, então, carregado de rosa e azul, o novo dia.