Por Edson Vidigal
Ver na cor do céu
teus olhos nublados
e a tempestade
nada mais que a metade
de lábios fechados
Ver no céu aberto
teus olhos fechados
e as nuvens que coram
nada mais que orvalho
em lábios rasgados
Ver nos teus olhos
dois corpos grudados
e a chuva que engole
nada mais que ternura
em lábios cruzados
São todos crianças tentando abraçar o céu, tentando flutuar no abismo., tentando, tentando...
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
domingo, 29 de setembro de 2013
PRAIA VERMELHA
na quieta areia
da praia
as ondas iam e
vinham
e em meio à
acústica
de montanhas e
rochas
davam ritmo a
uma fantástica
sinfonia de
silêncio
que era um doce
e gostoso manto
que cobria e
protegia
duas pequenas
crianças
duas doces
crianças
e unidas pela
ternura
quietinhas em
seus colos
se tocavam e
sonhavam
sonhavam e
pediam ao tempo
que descansasse
um instante
e alguns poucos
minutos
atenderam seus
pedidos
e deixaram que
aquele momento
se perpetuasse
atravessasse a
areia, o mar
o infinito e
negro céu
e beijasse seus
inquietos
ansiosos e
palpitantes
corações...
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
O MACROSCÓPIO
Por Edson Vidigal
O macroscópio é o melhor instrumento que já inventaram. Ele deixa tudo longe, bem pequenininho. Como se você estivesse olhando para algo lá no horizonte. Se você olhar para um prédio usando um macroscópio, ele ficará do tamanho de uma árvore. Se você olhar para uma árvore usando um macroscópio, você vai ver só um pontinho verde, do tamanho de uma pequena folha. Se você olhar para uma folha usando o macroscópio, você nem conseguirá vê-la, ela ficará do tamanho de um micróbio. E um micróbio, então, fica tão pequenininho que some. Ele deixa de existir. Mas pra quê se preocupar com coisas tão pequenas como micróbios que não podemos ver, se não conseguimos nem cuidar das coisas grandes que são fáceis de ver?
O macroscópio é o melhor instrumento que já inventaram. Ele deixa tudo longe, bem pequenininho. Como se você estivesse olhando para algo lá no horizonte. Se você olhar para um prédio usando um macroscópio, ele ficará do tamanho de uma árvore. Se você olhar para uma árvore usando um macroscópio, você vai ver só um pontinho verde, do tamanho de uma pequena folha. Se você olhar para uma folha usando o macroscópio, você nem conseguirá vê-la, ela ficará do tamanho de um micróbio. E um micróbio, então, fica tão pequenininho que some. Ele deixa de existir. Mas pra quê se preocupar com coisas tão pequenas como micróbios que não podemos ver, se não conseguimos nem cuidar das coisas grandes que são fáceis de ver?
Alguém menos informado
poderia perguntar pra quê serve um macroscópio. E eu responderia: “Ora, para
poder ver as coisas bem pequenininhas!”. Mas tem gente que parece não querer
entender. Se para bom entendedor, meia palavra basta, como é que alguém não
consegue entender com oito palavras? Eu passei muito tempo tentando entender
isso, e por isso é que eu inventei o macroscópio. Para que as pessoas consigam
entender as coisas mais facilmente, com menos palavras.
Uma vez, eu conheci uma
pessoa que era enorme. Era maior que uma folha! (Se para você isso não é grande
o suficiente, para a folha é, ora bolas...)
Ele era enorme, um gigante
como nunca antes eu vi. Era maior que um “cauabanga”, bem maior que um
“Calamungo” e “muitissíssimamente” maior que um “Kitspliq”. Ele era maior que
tudo. Realmente enorme. Só para você ter uma idéia de como ele era enorme, o
dedão do pé direito dele era tão grande que se você pulasse da unha dele
levaria a vida toda caindo e nunca alcançaria o chão.
E por ele ser tão grande,
as outras coisas para ele eram bem pequenininhas. Muito pequenininhas mesmo.
Ele era tão grande que o chão ficava muito muito longe da cabeça dele. E ele
olhava pra baixo pra ver os seus pés, e quando via o mundo lá embaixo de seus
pés, tudo ficava tão longe que mal dava pra ver. Ele olhava pro sol e só via um
pontinho brilhante, igual vemos as estrelas no céu, que dizem que na verdade
são muito maiores do que o sol. Ele olhava pro lado e via toda a galáxia, que
pra ele era como se fosse uma gotinha de leite em um pires. Assim ele conhecia
tudo. Ele via tão longe que via muito. Ele sabia de tudo. Ele só não via as
coisas que eram tão pequenininhas mesmo que não tinha porque ele se dar ao
trabalho de ver. Pra que?
Ele me disse uma vez que
era muito gostoso ver as coisas assim. Ver a dança do universo, ver tudo junto
de uma vez só. Ver as coisas pequenininhas. Ele via tudo muito melhor que nós.
Porque ele via de longe. E quanto mais ele apertava os olhos, mais as coisas
ficavam pequenininhas e mais longe ele via. Foi ele quem me deu a idéia de
construir o macroscópio.
Imagina se você não pudesse
ver o sol lá longe, pequenininho? Você nem saberia que ele existe, pois ele de
perto é tão grande que se a terra estivesse bem pertinho dele e nós
conseguíssemos continuar vivos, sem derreter, você acharia que ele é o universo
e não tinha fim. Igual quando olhamos pro céu de noite.
E se o universo que vemos,
aquele preto todo cheio de estrelinhas, na verdade for um imenso planeta preto
com pontinhos brilhantes, que é tão grande que cobre tudo o que está atrás
dele? Só conseguiríamos saber que na verdade o universo é só mais um planeta
grande se usássemos um macroscópio bem potente, mas ele ainda não foi
inventado.
O meu amigo gigante uma vez
me contou um segredo. Ele me disse que, na verdade, as coisas são mesmo bem
pequenininhas. Nós todos somos bem pequenininhos. Tudo o que precisamos é bem
pequenininho, e nossos problemas também são bem pequenininhos. A única coisa
que é grande mesmo é ele, que na verdade é a soma de todas as coisas
pequenininhas. As pequenas coisas só ficam grandes quando se juntam. Quando
estão unidas muitas delas, umas às outras. Só que sem a ajuda do macroscópio,
não conseguimos perceber isso. Achamos que tudo é grande, tudo é maior do que
na verdade é. E tudo é mais complicado e mais difícil do que na verdade é.
Se olharmos para uma cidade
usando o macroscópio, a cidade ficará do tamanho de um mapa, como se
estivéssemos olhando pra ela de um avião, então ficaria fácil achar qualquer
caminho que se estiver procurando.
Se olharmos para um problema usando o
macroscópio, ele ficará bem longe e pequenininho, e assim poderemos entende-lo
melhor e resolvê-lo sem medo de seu tamanho. Se você olhar para todas as coisas
que deseja usando o macroscópio, elas ficarão tão pequenas que só mesmo aquelas
que realmente importam serão vistas. As outras simplesmente sumirão e, sem
vê-las, você as esquecerá e assim não perderá mais tempo com elas.
Se você
olhar para as pessoas usando um macroscópio, elas ficarão tão pequenininhas que
você não notará nenhuma diferença entre elas. Você verá que elas são todas
iguais. E o melhor de tudo: Se você olhar para um espelho usando um
macroscópio, você ficará igual a elas, e perceberá que todos nós só nos
desentendemos por que achamos que somos grandes e diferentes uns dos outros.
Perceberá que se continuarmos brigando para ver quem é maior, estaremos sempre
separados e pequenos. E nossos problemas estarão sempre enormes e crescendo.
Perceberá que, ao invés de tentar aumentar as coisas para tentar ver elétrons e
outras coisinhas insignificantes, é bem melhor diminuir as coisas para
percebermos o quanto tudo é pequeno separado e o quanto a soma de tudo junto é
grande e bonita.
Aquele meu amigo gigante
ainda me disse um último segredo quando o conheci: Ele disse que todos nós
temos um macroscópio dentro de nós. O problema é que aumentamos tanto as coisas
de fora, que o que temos dentro de nós fica tão pequenininho que some. Deixa de
existir.
JEITO INOCENTE DE VIVER
Quando a gente é criança tudo é
surpreendente
O tempo é suficiente para tudo o que
fizermos
Tendemos a acreditar em um amiguinho da
nossa idade
A acreditarmos em nossos pais
Só odiamos uma coisa:
A doença que nos prende à cama
Preferimos assistir uma barata, ainda
que parada,
A assistir um desenho animado
Não sorrimos da aparência relativamente
cômica de um palhaço
Mas sim de suas brincadeiras e
atrapalhadas, porque é assim que somos
E no começo do ano letivo podemos até sentir,
sem muito esforço,
O cheiro, de novos, nos cadernos, livros
e lapiseiras.
Acreditamos em tudo, desde o papai Noel
até a beleza deste mundo.
Estudamos sem saber por quê
Brincamos apenas por querer
Apanhamos às vezes sem entender
E pensamos, ingenuamente: quero logo
crescer!
Bom seria isto, se, tão cedo, não
perdêssemos a virtude mais preciosa de um ser:
O jeito inocente de viver...
(Poema de Jéssica Freire)
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
DEBAIXO DA TUA JANELA (ROMANCE DO BESOURO E DA JOANINHA)
quieto
inseto
incerto
inseto d’água
inseto incerto
exceto inseto
incerto
singelo
quieto!
Quieto
quieto inseto d’água
nada sabe
apenas nada
nada em sua aflição
Singelo
singela gota
gota que me molha os lábios
me desce o peito
afoga o coração
Quieto
quieta a fada que sonha
sonha e dança
meiga criança
fantasia e paixão
Singelo
singelo inseto molhado
encolhido e calado
nada tem
apenas a sua ilusão
Sou inseto
sou exceto
sou incerto
sou mágoa
sou água
água que te molha
água que te olha
que quer matar tua sede
Sou inseto
exceto
incerto
mágoa
água
água singela
água quieta e bela
é... água, aquela
debaixo da tua janela
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