segunda-feira, 30 de novembro de 2015

É O QUE FAÇO

Cabe ao sol em seu amor pela lua apenas lhe banhar de luz, fazê-la brilhar, irradiar toda a sua beleza.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

TE EMBALO

Por Edson Vidigal


Não penso
te embalo
não tento
te embalo
não sento
te embalo

Lento
lento
lento

Como deve ser
meu carinho
meu caminho
minha busca
meu viver

meu amor
por você

Te embalo em meu peito
te embalo sem jeito
te embalo e respeito
teu leito
te embalo

Pela tarde
te embalo
sem alarde
te embalo
pela chama que arde
te embalo
e te embalo

Nesse balanço lento
que nos leva
que nos traz
que nos faz
quando somos
apenas um

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

MEU ANJO

Por Edson Vidigal

Antes de tudo, antes do sol, da lua, do mar, das estrelas, antes que o chão tocasse o firmamento, eu era infinito, e voava nas asas de um anjo de luz.
Ele me deitou, meu beijou e me fez seguir em frente, pela finitude de um dia que se acaba apenas para que um novo possa nascer do fundo de uma noite linda, prenha da luz que teima em romper o horizonte.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

PULSAR


Naquela porta, naquela sala, naquele berço, dormia o sol, na lua cheia. Enquanto anjos circundavam o jardim em busca de flores que cansaram de murchar. Que cansaram de sorrir, que cansaram de andar.

O suor descia de seu rosto pálido e encontrava o frio em seu peito vazio. Naquela sensação de não pertencer a nada, a ninguém, a lugar nenhum. Aquela sensação de ausência de repouso, de descanso, de um final feliz.
E notas graves emolduravam uma linda melodia que dançava na noite por entre os goles de momentos felizes que lhe desciam pela garganta de tantos em tantos compassos.

Naquela cadência infinita, naquele ritmo forte, naquele pulsar profundo, batia um coração fraco, sem muito ar, sem muito mar, sem água, sem molho. Um redemoinho de escarpas sem fim de onde não se viam fundos, apenas o negro de olhos brilhantes nos quais se podia eternamente despencar.
E molduras não podiam conter o canto que extravasava a tela em somatórios de pontos que, unidos, beijavam curvas, subidas e descidas calmas e tenras onde pássaros cantaram e aves pousaram em meio ao vôo.

Foi quando um grito mudo ecoou no éter, atravessando o futuro em ondas de calor, de pulsões, de explosões que alcançavam planetas distantes. Escapou da luz por cansaço de segui-la em vão, pois onde quer que ousasse pensar, lá ela já estava, carregada por suas aladas e velozes carruagens de fogo.

Da dor, da cor, do amor, finalmente nasceu, então, carregado de rosa e azul, o novo dia.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

ANJO LINDO


Era um dia quente, e o vento, já exaurido de tanto trabalho naquele verão, resolveu se dar algum descanso, pois também era filho de Deus. As nuvens saíram para passear e aproveitar o sol. E só restou aquela singela árvore, quase sem copa, a fazer sombra àquela figurinha esguia, que de longe só se via o sorriso imenso e quente, cheio de carinho.

Seus bracinhos eram leves e dava medo de quebrar ao toque. Sua ternura, por outro lado, impelia a um abraço apertado, desses de esmagar as costelas. Mas suas costelinhas, tão crocantes, tão delicadas, tão raras e receptivas, com certeza não aguentariam tal demonstração de apreço.

Ela me fazia pensar como a verdadeira beleza é frágil. E como o verdadeiro toque de amor deve ser ao mesmo tempo seguro e cuidadoso.

Muitas vezes no afã de se grudar a quem se ama, acaba-se machucando de forma irreversível o fino e delicado sentimento que buscamos. Por isso as rosas têm espinhos, únicas proteções para suas aveludadas e cheirosas pétalas, tão agradáveis ao tato, tão deliciosas ao olfato, tão realizadoras aos olhos, tão completas aos sentidos.

Ela era assim, como uma rosa rubra desnuda de espinhos. Um flor delicada e rara em meio ao jardim ensolarado e quente.

Sua silhueta tão tênue disputava espaço na grama com a sombra daquela pequena árvore que dançava estática enquanto crescia no decorrer de seus poucos anos de vida. E cada dedinho seu fazia lembrar a aurora, a cada doce despertar.

Não contive o palpitar de meu coração, que tomado pela beleza, batia certo em sua direção. Não contive o andar de minhas pernas, o suor de meu rosto, meu olhar apaixonado, que ensaiava palavras que não chegaram a nascer.

Ela me viu, sorriu, seus olhos brilhavam e eram um caminho de luz a ser percorrido pela eternidade.

Aproximei-me com muito cuidado daquele anjo vestido de gente. Apenas o suficiente para, observando-o, não assusta-lo. E cada passo na grama era uma vida inteira de possibilidades que invadiam minha mente e devastavam meu corpo em ondas de emoções.

Nem cheguei a toca-la.

Sem espinhos, meu anjo partiu.

E voa por aí nas asas do vento.

Mora para sempre no mais profundo e forte pulsar de meu coração.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

LUZ


Luz 

que permeia
que invade
incendeia
meu amor
meu coração



Luz 
que me ateia
que arde
clareia
minha dor
minha paixão


Luz 
que ladeia
que tarde
semeia
meu calor
minha razão


Luz 
que alardeia
que parte
esteia
a cor
a ação

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

SEREIAS

Quando menos esperava, ele se perdeu. Em meio a vagalhões de morte, untado por espirros salgados, tão húmidos quanto aquele beijo eterno que um dia tentou prende-lo em uma imortalidade que não o conquistou.
Da beleza infinita lhe tomou os dedos, as mãos, os braços, os pés, as pernas, os cabelos, a razão. Beijou-lhe o rosto, a boca, a nuca. Amparou os seios, o ventre, as costas nuas, e a deixou cair, como tantas outras quimeras que seduziu em seu longo e distante mergulho em si, rumo àquela velha oliveira cujas raízes lhe eram cama.
Sentiu pulsos palpitantes, olhares radiantes, desejos infinitos jogados a seus pés. Fez seu nome ecoar nos ares em afronta aos deuses. Varreu o mundo até o inferno, de onde, sem nunca estar morto, ressuscitou ao firmamento e à imortal memória dos homens.
Seduziu deusas, gozou de infindáveis femininos favores, até se deixar seduzir pela morte mais bela, mais feminina, mais líquida, mais embriagante.
Mal sabia ela, era apenas mais um de seus infindáveis ardis...