domingo, 27 de setembro de 2015

ODISSÉIA

Por Edson Vidigal

Não tenhamos medos de seguir a necessária viagem, nem de vivenciar cada gota desse infinito mar. Com ímpeto, perspicácia e foco, alcançamos terras inimagináveis. Basta sempre conferir o casco, as velas, os remos, as amarras. Munir o coração de coragem, a mente de autocontrole e, principalmente, a alma da mais intensa e pulsante paixão.



sábado, 26 de setembro de 2015

NO INSTANTE

Quando abri novamente tuas páginas, há tanto esquecidas cuidadosamente entre as mentes mais significativas que por este mundo louco passaram, mergulhei na viagem de teu corpo, como nunca antes tive coragem suficiente.
Percebi que minha viagem rumo a teu coração havia se perdido, talvez no prefácio, ou na apresentação. O fato é que hoje a beleza foge de minhas palavras como um cão foge de seu dono por não mais o reconhecer.
Meu cheiro mudou, meu olhar mudou, meu corpo mudou. Me deixei transformar pelas vicissitudes da vida, em detrimento de meus sonhos.
É possível se perder dentro de si próprio? É possivel se achar, sem que alguma estrela das constelações afora sirva de norte?
Parece ser uma constante em minha vida os "mais uma vez". A estória se repete uma, duas, três, infinitas vezes, como que me dissesse "abre essa cabeça dura e muda".
E sempre me sinto mudando, mas parece que nunca é o suficiente, ou quem sabe nunca é nada. Sempre me sinto "mundando"...

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Hoje volto a São Luís 
espera
longa espera
esparso universo 
de constelações de espera
esparsos seus olhos 
que me dizem "fica"
e eu vou
esparsas a mente e a razão
que me levam sob custódia

Hoje volto a São Luís 
Tenho que esperar
logo espero
é, era
uma Era
uma odisséia em transição
Transcendental efêmero
rumo a nova solidão
solidão de olhares e palavras
palavras de dúvidas e paixão
paixão por pétalas e rosas
rosa eterna da ilusão

Linda 
eu sinto em seu peito
um nobre defeito
o palpitar de uma emoção
Aceito
o que seria está feito
sem jeito
em nosso leito
sonha por nós
e chora o coração
Chora o suor de meu corpo
que ora morto
quente vela
seu carinho e afeição
chora nos olhos das fadas
lágrimas espadas
e forte espera
pelo toque de sua mão
Chora em um dado momento
e jogado ao vento
voa longe
longe
beija tua alma
e aguarda a volta
nos versos de uma canção

LUA DE SANGUE


Antes que a noite nascesse pela primeira vez, antes que pela primeira vez a lua aos lábios fosse tocada, antes que o homem sonhasse em conquistá-la, alcançá-la e possui-la, a triste nuvem já a admirava, e chorava sua afeição.
Chora até hoje, por saber que nunca voará alto o bastante para tocá-la o rosto, sem antes se sucumbir.

ACORDAR


Não se enterram vontades súbitas, como a de rir, chorar, cantar aos mares ou beijar um "te amo" sem o necessário porquê.
Compelida ao vento a função de nos levar ao toque de palavras e intenções, esvai-se o desejo silenciado em sussurros de lábios dos quais não se colhem os olhares mais ternos. E palavras jorram despencadas em cascatas pelas linhas sóbrias e sábias de quem nos queira dar lições do que seja a vida.
São apenas toques. Toques musicados por fios de brilho intenso que se deixam descobrir revelando esse doce olhar que respira a ansiedade de te deixar sentir as palavras e te cantar um beijo.
A obrigação da lucidez me obriga a ser um tanto quanto lógico e superficial, temendo apenas o esvair dos pensamentos. Algo como se ficassem os sons num silêncio cíclico e instigante a se deixar levar.
Uma vela ao vento que molda ondas, panos, direções, sentidos, e desliza dedos no macio mar de pelos, pele e sedução. Por sentir necessidade de sair, de viver, de acordar. Acordar de um sono longo, de reviravoltas na insônia que move lençóis, travesseiros, rumos, e que me avisa que não devo continuar dormindo.
Engraçado o necessário a nos acordar. Sem o sol nos lembrar que existe o dia, na noite simplesmente dormiríamos sem nela sonhar. Acordei por hoje e sonharei o suficiente a deitar contigo mais uma vez em nossos caminhos, em minha alma, em teus anseios, em teu palpitar, em teu seio ávido e aberto a mais uma gota de emoção.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

DORME, LINDA!


Dorme, linda
dorme e sonha
sonha agora
e ainda por ora
esquece a demora
do nosso querer
do nosso sonhar
Dorme, linda
dorme e sonha
talvez me proponha
sentir ao teu lado
a tua essência
o toque da noite
dormir e sonhar
e doce faz manha
sou teu travesseiro
teus sonhos
teu cheiro
até acordar
Dorme, linda
que as asas me levam
o sono me chama
o céu é minha cama
o céu e as estrelas
pontinhos brilhantes
que piscam distantes
a minha paixão
seus olhos me abraçam
seus cabelos me laçam
e o seu sorriso
é mais um pedido
de sedução
me ama e me beija
me sente e me deixa
sangrar de emoção
sua pele acanhada
sue face rosada
me deixam acordado
com o lápis na mão
e escrevo dormindo
sonhando, sorrindo
apesar que partindo
deitado, sentindo
o teu coração.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

ESPELHO


No escuro de teu querer
mora o lago
fundo
ao lado
do meu
que não vê
que não ouve
que não diz
que não toca
que sufoca
que não quer
que não
beija a mão
os pés
o corpo
a razão
e me faz
querer
não ser
não ter
não se ver
talvez não
No escuro
à mingua
da tua lua
que reflete
a luz
que não quer
chegar

terça-feira, 22 de setembro de 2015

APENAS UMA PEQUENA BRINCADEIRA DE FIM DE TARDE

Por Edson Vidigal

Nuvem branca
Livre, solta
Sopro de vento sudeste
Chega e me veste
Sutil, delicada, forte
Refrescante leito de morte
Fecha meus olhos
Pega minha mão
Me faz sonhar
Me tira
Me atira

no chão

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

UMA PORTA, UMA JANELA...


O dia ainda estava verde. O brilho da escuridão cantava assobios curtos que acalmavam a mente. Lá de dentro ouvia-se passos delicados, quase um arrastar de pés, preocupados em não acordar o sono. Em não sufocar os sonhos.

O cheiro de mar soprava por entre as janelas, fazendo dançar as cortinas, tão roçadas em tantas outras sinfonias. E a leveza era sutil no ar.

Pedaços de pele se aqueciam, amornavam o peito, molhavam o coração. E pequenas crianças se amparavam uma à outra, em meio a tantas fugas, medos, culpas e tentações.

Um tempo solto naquela imensidão de tudo. Naquele profundo oceano que abraçava forte, que amparava mole, que beijava lento.

Uma realidade distante que tomava forma em cada desejo, em cada palavra, em cada pulsar de flamejantes veias.

Veias encharcadas do sangue que ardia por querer, por não deixar, por antever, por não ceder, por talvez a ânsia de esquecer.


E tudo aquilo se foi. Voou pra longe com o bater de asas de uma pequena andorinha, que apenas queria entrar.

sábado, 12 de setembro de 2015

FOGO

Por Edson Vidigal


Deslizo meus dedos
e me agarro em ti
pra não cair
pra não ficar
pra não tolher
a fera que há
que rasga e que sai
Na força que vai
que foge e que leva
que me envolve
que me move
que me entrega
o ímpeto
o calor
a solidez
a solidão
Na tua fúria
que explode em nós
No teu corpo
que explode em mim
e que enquanto abraço, é meu
desde que eu saiba te ter
te ler
te escrever
te ser
entender
teu tempo
teu gênio
tuas respostas
Meu toque
teu torque
meu espelho
tuas costas
tuas curvas
que receio
que me atraem
me permeiam
do freio
preciso
para sempre
seguir
em frente

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

TEBAS



Era uma casa assim, meio marron, meio vesga. Um tanto quanto obscena. Uma casa atrapalhada, desajeitada, mas sutil e sensual. Uma casa onde se escondiam lembranças de uma vida que não nasceu, que não viu a luz. Lampejos abafados por tudo o que não se queria ter tido.

Todos trocavam carícias na sala de estar. Uns mais, outros menos. Todos estavam dispostos a tentar. Vendados, alados, soltos, perdidos. Um vai e vem de idas desenfreadas, de retornos bruscos, de orgias de falta, de inebriadas razões.

Quando aquela cena inusitada rompeu o silêncio, ninguém se incomodou. Continuaram trabalhando a fiar seus ninhos de sobras de vida, de verdes que perderam a cor, de seivas que secaram a dor.

Quando as taças de cristal foram quebradas, a nota alta e breve se diluiu no nada, e apenas um suspiro mudo se ressentiu do que ficou. Dos cacos de uma história que havia sido lapidada por tempos e tempos enquanto do fosco se alcançava o brilho. Das mãos que ficaram trêmulas, das bocas que foram molhadas, dos corações que foram embriagados em torpor.

Todo o amparo de uma certeza frágil e delicada, que não resistiu ao choque contra a dureza da razão. Aquela que lhes era chão. Fria, implacável. Sólida como uma rocha, sábia como uma pedra.

Enquanto isso, na escada, um tanto inquieta, ela lamentava a solidão de dedos curiosos que não encontraram o amor. Cada um deles disposto a se abrir em busca de se deixar conduzir levemente pelo calor de um só corpo.

Uma só vida, que se perdera em várias. Uma só luz que se partiu em duas, em três, em quatro, em seis, em muitas, até enfraquecer o brilho, empalidecer as formas, minguar na sombra.

Tantos degraus já haviam sido pisados e repisados por passos incertos, presos, acorrentados a um ponto fixo no corrimão, na vã tentativa de se prevenir da queda.


Aquela sem a qual a bicicleta não se deixa conduzir, os joelhos não se transformam em pés, as esfinges não são solucionadas para que por fim sejamos, de uma forma ou de outra, devorados pelas tramas de nossas vidas.