segunda-feira, 17 de outubro de 2016

ESPADAS

Atrás jorrava o rio. Denso, intenso, plácido. Lento, sereno, imenso. Embaixo, chorava o pasto. Raso, amargo, molhado, em meio a piscares de orvalho. Um trigo reluzente e fértil a risadas tímidas de canto de boca.
Em frente se via o cume de colinas que talvez fossem morros para agradáveis escaladas. Um tatear gostoso, firme e delicado, que na pressa arranha, e na calma acaricia e nos conduz seguros. Momentos nos quais podemos nos unir cantando cada grão de nossa pele seca na chama que clama o topo.
Mirei o nada e dei por mim que o que sentia era só. Que o que havia era só. Que o que vinha era só, que o que pensava ainda era só. 
E sempre seria só, enquanto esse ar insistisse em não deixar meus pulmões, inalar-se noutros cheiros, noutros narizes, noutros temperos. Noutros sabores que nunca hei de lamber, que nunca hei de sentir. 
Todo esse nada, esse todo, esse ar que existe, que insiste, que preenche, que me enche, que sufoca.