segunda-feira, 2 de novembro de 2015

SEREIAS

Quando menos esperava, ele se perdeu. Em meio a vagalhões de morte, untado por espirros salgados, tão húmidos quanto aquele beijo eterno que um dia tentou prende-lo em uma imortalidade que não o conquistou.
Da beleza infinita lhe tomou os dedos, as mãos, os braços, os pés, as pernas, os cabelos, a razão. Beijou-lhe o rosto, a boca, a nuca. Amparou os seios, o ventre, as costas nuas, e a deixou cair, como tantas outras quimeras que seduziu em seu longo e distante mergulho em si, rumo àquela velha oliveira cujas raízes lhe eram cama.
Sentiu pulsos palpitantes, olhares radiantes, desejos infinitos jogados a seus pés. Fez seu nome ecoar nos ares em afronta aos deuses. Varreu o mundo até o inferno, de onde, sem nunca estar morto, ressuscitou ao firmamento e à imortal memória dos homens.
Seduziu deusas, gozou de infindáveis femininos favores, até se deixar seduzir pela morte mais bela, mais feminina, mais líquida, mais embriagante.
Mal sabia ela, era apenas mais um de seus infindáveis ardis...

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