segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O MACROSCÓPIO


Por Edson Vidigal

O macroscópio é o melhor instrumento que já inventaram. Ele deixa tudo longe, bem pequenininho. Como se você estivesse olhando para algo lá no horizonte. Se você olhar para um prédio usando um macroscópio, ele ficará do tamanho de uma árvore. Se você olhar para uma árvore usando um macroscópio, você vai ver só um pontinho verde, do tamanho de uma pequena folha. Se você olhar para uma folha usando o macroscópio, você nem conseguirá vê-la, ela ficará do tamanho de um micróbio. E um micróbio, então, fica tão pequenininho que some. Ele deixa de existir. Mas pra quê se preocupar com coisas tão pequenas como micróbios que não podemos ver, se não conseguimos nem cuidar das coisas grandes que são fáceis de ver?

Alguém menos informado poderia perguntar pra quê serve um macroscópio. E eu responderia: “Ora, para poder ver as coisas bem pequenininhas!”. Mas tem gente que parece não querer entender. Se para bom entendedor, meia palavra basta, como é que alguém não consegue entender com oito palavras? Eu passei muito tempo tentando entender isso, e por isso é que eu inventei o macroscópio. Para que as pessoas consigam entender as coisas mais facilmente, com menos palavras.

Uma vez, eu conheci uma pessoa que era enorme. Era maior que uma folha! (Se para você isso não é grande o suficiente, para a folha é, ora bolas...)

Ele era enorme, um gigante como nunca antes eu vi. Era maior que um “cauabanga”, bem maior que um “Calamungo” e “muitissíssimamente” maior que um “Kitspliq”. Ele era maior que tudo. Realmente enorme. Só para você ter uma idéia de como ele era enorme, o dedão do pé direito dele era tão grande que se você pulasse da unha dele levaria a vida toda caindo e nunca alcançaria o chão.

E por ele ser tão grande, as outras coisas para ele eram bem pequenininhas. Muito pequenininhas mesmo. Ele era tão grande que o chão ficava muito muito longe da cabeça dele. E ele olhava pra baixo pra ver os seus pés, e quando via o mundo lá embaixo de seus pés, tudo ficava tão longe que mal dava pra ver. Ele olhava pro sol e só via um pontinho brilhante, igual vemos as estrelas no céu, que dizem que na verdade são muito maiores do que o sol. Ele olhava pro lado e via toda a galáxia, que pra ele era como se fosse uma gotinha de leite em um pires. Assim ele conhecia tudo. Ele via tão longe que via muito. Ele sabia de tudo. Ele só não via as coisas que eram tão pequenininhas mesmo que não tinha porque ele se dar ao trabalho de ver. Pra que? 

Ele me disse uma vez que era muito gostoso ver as coisas assim. Ver a dança do universo, ver tudo junto de uma vez só. Ver as coisas pequenininhas. Ele via tudo muito melhor que nós. Porque ele via de longe. E quanto mais ele apertava os olhos, mais as coisas ficavam pequenininhas e mais longe ele via. Foi ele quem me deu a idéia de construir o macroscópio.

Imagina se você não pudesse ver o sol lá longe, pequenininho? Você nem saberia que ele existe, pois ele de perto é tão grande que se a terra estivesse bem pertinho dele e nós conseguíssemos continuar vivos, sem derreter, você acharia que ele é o universo e não tinha fim. Igual quando olhamos pro céu de noite.

E se o universo que vemos, aquele preto todo cheio de estrelinhas, na verdade for um imenso planeta preto com pontinhos brilhantes, que é tão grande que cobre tudo o que está atrás dele? Só conseguiríamos saber que na verdade o universo é só mais um planeta grande se usássemos um macroscópio bem potente, mas ele ainda não foi inventado.

O meu amigo gigante uma vez me contou um segredo. Ele me disse que, na verdade, as coisas são mesmo bem pequenininhas. Nós todos somos bem pequenininhos. Tudo o que precisamos é bem pequenininho, e nossos problemas também são bem pequenininhos. A única coisa que é grande mesmo é ele, que na verdade é a soma de todas as coisas pequenininhas. As pequenas coisas só ficam grandes quando se juntam. Quando estão unidas muitas delas, umas às outras. Só que sem a ajuda do macroscópio, não conseguimos perceber isso. Achamos que tudo é grande, tudo é maior do que na verdade é. E tudo é mais complicado e mais difícil do que na verdade é.

Se olharmos para uma cidade usando o macroscópio, a cidade ficará do tamanho de um mapa, como se estivéssemos olhando pra ela de um avião, então ficaria fácil achar qualquer caminho que se estiver procurando. 

Se olharmos para um problema usando o macroscópio, ele ficará bem longe e pequenininho, e assim poderemos entende-lo melhor e resolvê-lo sem medo de seu tamanho. Se você olhar para todas as coisas que deseja usando o macroscópio, elas ficarão tão pequenas que só mesmo aquelas que realmente importam serão vistas. As outras simplesmente sumirão e, sem vê-las, você as esquecerá e assim não perderá mais tempo com elas. 

Se você olhar para as pessoas usando um macroscópio, elas ficarão tão pequenininhas que você não notará nenhuma diferença entre elas. Você verá que elas são todas iguais. E o melhor de tudo: Se você olhar para um espelho usando um macroscópio, você ficará igual a elas, e perceberá que todos nós só nos desentendemos por que achamos que somos grandes e diferentes uns dos outros. Perceberá que se continuarmos brigando para ver quem é maior, estaremos sempre separados e pequenos. E nossos problemas estarão sempre enormes e crescendo. 

Perceberá que, ao invés de tentar aumentar as coisas para tentar ver elétrons e outras coisinhas insignificantes, é bem melhor diminuir as coisas para percebermos o quanto tudo é pequeno separado e o quanto a soma de tudo junto é grande e bonita.

Aquele meu amigo gigante ainda me disse um último segredo quando o conheci: Ele disse que todos nós temos um macroscópio dentro de nós. O problema é que aumentamos tanto as coisas de fora, que o que temos dentro de nós fica tão pequenininho que some. Deixa de existir.

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